12.10.2004

 

Ho ho ho e um prato de salada

Por Tales Lima Carrão

Sim. Como já disse milhares de vezes anteriormente, o mundo está se tornando homossexual. Não bastasse a nova onda do "metrossexualismo", agora temos que conviver (aliás, não de hoje) com naturebas ridículos que exaltam as vantagens de rabanetes e acelgas, enquanto nos deliciamos com maravilhosas e masculinas iguarias gordurosas.
Onde foi parar aquele tempo em que um homem valia o quanto conseguia ingerir de carnes e pratos muito condimentados? A salada, terceiro grande mal da humanidade, atrás apenas da Segunda Guerra Mundial e da epidemia de Peste Negra na Idade Média, vem tomando conta de cardápios de restaurantes, bares e até mesmo do cardápio da casa dos últimos sobreviventes de uma geração de homens glutões e preguiçosos.
Ontem fui surpreendido ao ver um desses homens (ao menos eu supunha que ele assim fosse) pedir uma "Salada César". O que vem a ser uma ´Salada César? Melhor: como alguém pode distinguir um prato de mato a ponto de dar-lhe mais de cem nomes diferentes?
O episódio me irritou demasiado e só pra descontar, pedi uma porção de calabresa acebolado, pedindo para o garçom "óleo extra", além de pedir também a famosa porção de provolone à milanesa.
Foi inútil, o amigo, que no caso era Menstruca, manteve seu pedido de salada. Parti pra ignorância, sumindo com o frasco de azeite, deixando-o cara a cara com um prato sem qualquer experança de gordura. Ele comeu.
Nesse momento, eu, os dois gordos na mesa ao lado, todos os garçons (menos o que serviu a salada, que parecia o Ney Matogrosso), o tio do banheiro e até mesmo uma sapatona que estava no balcão, empurramos Menstruca contra um dos pilares, exigindo satisfações... e rápido.
Neste momento fui obrigado, não a concordar com o consumo vexatório de saladas, mas a 'tolerar' isso. Menstruca havia ingerido, na noite anterior, 700 gramas de queijo cheddar, e essa estava estragado. Não pude deixar de admirá-lo quando disse que, mesmo ao perceber que o queijo já estava em processo de deterioração, sentiu-se na obrigação de degluti-lo, sob pena de ter de comer seu X-Egg-Bacon-Maionese-Tártaro-Provolone sem um de seus componentes fundamentais: o cheddar.
Tudo bem. Dessa vez passou. Mas ao sair do restaurante, cuspi no buffet de saladas.
Tales Lima Carrão é ex-cantor de churrascaria e atual operador de tráfego em buffets de caminhoneiros da rodovia BR-116. Aos 15 anos, ateou fogo a uma banca de jornais após comprar 67 pacotinhos de figurinhas e não conseguir completar seu álbum do Campeonato Brasileiro.

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