9.21.2004
Aventuras numa Farmácia de Bairro
Por Tales Lima Carrão
Ah, juventude! Época maravilhosa a irresponsabilidade e aventuras com mulheres feias e de "procedência duvidosa". Apesar de sempre utilizar o acessório conhecido como "camisinha". Entretanto, já muito cedo, descobri que apesar de servir de barreira para a maioria dos males e doenças venéreas, não barra ABSOLUTAMENTE tudo.
Sempre ouvira falar à respeito do pequenino 'chato', parente dos ácaros e pulgas, mas não me preocupava o mínimo com a existência desse pobre animal, até uma de minhas viagens à Praia Grande, litoral sul de São Paulo.
O sexo descompromissado com mulheres de procedência duvidosa, durante o mencionado episódio, foi feito sempre com o uso de camisinhas, de boa qualidade por sinal. No entanto, alguns dias depois de retornar a São Paulo, me deparei com uma "comichão" no entorno da região genital, que não cessava mesmo mediante meus mais tenazes ataques e arranhões.
Alguns dias se passaram até que eu, conversando com meu pai (que obviamente deu milhares de risadas antes de sugerir qualquer tipo de maneira de remediar o caso), descobri do que se tratava: Chato. Só então pude ver, com maior atenção, os pequeninos insetos. Que inferno.
Resolvi ir até a farmácia, pedir a ajuda do meu confiável farmacêutico de bairro. Pé antepé, adentrei o estabelecimento, indo sorrateiramente até o balcão onde se encontrava prostrado o nobre farmacêutico:
- Éééé... sacumequié, eu peguei aquele bagulho, o tal do chato. O que o senhor recomenda?
Logo me espantei com o grito que aquele simpático e filho da puta senhor proferiu:
- Ahhhhh, então tu pegou chato, né? Peraí que a gente dá um jeito. E aí, filho, anda frequentando a Augusta, né?
Foi horrível. Embora envergonhado, se estivesse em posse de algum objeto "pérfuro-contundente", poderia facilmente ter partido o crânio daquele velho miserável em dezenas de pedaços. O filho da puta voltou com um frasco:
- Passa duas vezes por dia e deixa uma meia hora de molho. Tiro e queda!
Fui embora pra casa aplicar o maldito remédio, ainda desejando a morte lenta e dolorosa daquele farmacêutico bigodudo. Chegando em casa, passei o remédio. Em alguns dias, os bichinhos foram exterminados e me considerei novamente um homem livre.
Qual não foi minha surpresa, quando passada uma semana, estava novamente infestado. Apliquei novamente o remédio, e mais uma semana e o efeito se repetiu. O desespero tomou conta de meu ser e resolvi ligar para o médico da família, como última instância para salvar meu pinto.
- Alô, dr., aqui é o Tales Lima, tudo bem? Pois é, peguei uma merda dum chato, e já se vão três semanas de remédio pra cá e pra lá, e meu pau continua infestado.
- Ah, isso é fácil. Passa formicida.
- Caralho, dr., eu com um problema e você ainda me tira. Que filho da puta.
- Fala baixo. Tô falando sério, moleque. Faz o que eu mandei.
Ainda descrente e atemorizado, acessei a despensa de casa, onde localizei o veneno para insetos. Apliquei sem dó o tal pozinho branco, e desencanei, apenas pensando: "se meu pau der merda arranco a cabeça daquele médico magrelo". Passados dois dias, nada mais havia em meus genitais, e uma semana depois, os pequenos demônios não haviam voltado. Agora sim eu estava livre.
Foi o tempo de eu comemorar, para novamente sentir a coceira. Examinei: não havia chatos, mas o formicida tinha causado uma inflamação do caralho. A primeira cena que me veio à cabeça foi a de um médico e um farmacêutico, abraçados bêbados num buteco, dando risada de um moleque com o pau cheio de chato.
Tales Lima Carrão é na verdade alter-ego de Winston Churchill, que durante a Segunda Guerra fumou mais de 3.478 charutos sem escovar os dentes.